Em um artigo intitulado "Educação no Brasil atual: entre mentiras e verdades – com arma e munição” a professora Maria José Albuquerque da Silva¹, ex. professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) – CAMPUS Parnaíba, nos traz uma reflexão sobre a atual Educação Brasileira. Nesse artigo ela nos conta que:
No século XVI o Brasil foi invadido e conquistado pelas civilizações europeias ditas “superiores” (Portugal e Espanha) na base da rapina e do terror, dizimando a todos que se opunham às suas pretensões de domínio e controle econômico, político e ideológico. No entanto, em pleno século XXI aprendemos que o país foi descoberto e desbravado por bandeirantes gentis. Aprendemos também que a força de um grito à beira de um rio tornou esse território independente, livre e soberano. Além disso, nos ensinaram que foi preciso uma simples assinatura para decretar a abolição da escravidão, e uma respeitosa carta destinada ao governo imperial (Português) teria sido suficiente para instalar o novo regime republicano e inserir a nação no rol dos países modernos e avançados, reforçando a generosidade dos “nossos bravos heróis”. Quantas estórias têm sido contadas como verdades por séculos e séculos!
Vivemos em uma nação marcada por profundos contrastes sociais, grandes fossos de desigualdades e injustiças separando ricos de pobres, bem ao gosto capitalista neoliberal ditado pelos países parasitários mais desenvolvidos, embora se propague de norte a sul e de leste a oeste que somos um povo cordial e hospitaleiro “por natureza”.
Hoje, o país tem muitos experts diplomados nas grandes universidades e faculdades brasileiras, estadunidenses e europeias, os quais vêm assumindo cargos importantes no serviço público ou passam a atuar como empresários, por exemplo, da educação - enquanto mercadoria e negócio altamente lucrativo -, criando, ou melhor, recriando a partir de modelos transplantados, estratégias metodológicas e mecanismos de avaliação pautados tão-somente em conhecimentos objetivos e mensuráveis da realidade.
Hoje o que vemos nas escolas de ensino fundamental e médio do país, é que estão planejando suas ações e formulados seus projetos pedagógicos em função dos índices de classificação e aprovação nas provas para ingresso no ensino superior, como o chamado Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), destinado a medir quantitativamente a qualidade do ensino brasileiro. Todas as escolas, com poucas exceções, direcionam os estudos para a realização dessas avaliações que, além de provocar mal-estar, ansiedade, sentimento de frustração e de pavor nos alunos, também tem afetado as famílias que se esforçam para investir numa melhor formação para seus filhos, bem como os professores e professoras que não deixam de ser avaliados através de seus alunos. A pressão social gerada em torno das provas e exames colocam a avaliação como o elemento precípuo e primordial da educação escolar em termos numéricos, sobrepondo-se, inclusive, aos objetivos e finalidades com caráter mais humanístico.
No entanto qual é a finalidade da formação humana? Será que é só formar os alunos para passar no vestibular, formar para competir no mercado de trabalho, formar para se ajustar às regras do sistema vigente. Propostas dessa natureza não demonstram preocupação com a transformação das relações sociais, em reduzir as desigualdades econômicas, em formar gente para lidar com gente, formar o humano para humanizar pessoas, formar profissionais para conviver e lidar com pessoas.
Sem esse cuidado ético, fortalece-se tão-somente a visão de que estamos em franco processo de desenvolvimento educacional, social e econômico, de que estamos crescendo como nação emergente no cenário internacional. No entanto, pensando e agindo assim estamos na verdade prestando um desserviço à humanidade, reduzindo a condição de existência humana e desumanizando as pessoas, que passam a ser valorizadas basicamente pelos bens que possuem e não pelas virtudes e o bom caráter que cultivam. Para as gerações atuais e se não mudarmos essa situação, para as futuras gerações, o ter se sobressai e prevalece em relação ao ser.
É com essa reflexão que queremos mostrar nossa indignação com a decisão tomada pela Reitoria da Universidade Estadual do Piauí (UESPI),que se faz representar pelo Reitor Carlos Alberto (PT), que sem ético e com extrema irresponsabilidade, aproveita o período de férias, evitando um debate com a comunidade acadêmica, para aprovar a adesão da UESPI ao novo ENEM, desrespeitando até o órgão de deliberação máxima da Instituição que é o Conselho Universitário (CONSUN), simplesmente para prostituir essa instituição ao governo federal, pois se tem a promessa de que a cada mil vagas ofertadas se terá um repasse de verbas federais para está instituição.
Essa pratica só nos mostra quanto essa instituição está defasada e sem nenhuma autonomia financeira ou administrativa. Se o governo federal tem dinheiro porque não faz esse repasse sem nos obrigar a aderir a essa politica do novo ENEM? Infelizmente o Reitor Carlos Alberto (PT) é submisso ao governador do Estado Wilson Martins (PSB), abrindo mão de nossa autonomia, ao invés de lutar por mais repasses e denunciar o descaso do governo estadual para com a UESPI.
Somos contra essa adesão ao novo ENEM, por que é notório que esse sistema não funciona, prova disse é que 45% das vagas após a seleção através do novo ENEM estão ociosas nas universidades que aderiram ao programa. Há casos escandalosos como o da Universidade Federal de Pelotas na qual 82% das vagas na faculdade de direito não estão preenchidas. A Universidade Federal do Mato Grosso começou as aulas com 2.482 vagas ainda vazias. Só no curso de enfermagem desta instituição, 207, das 265 vagas, não foram preenchidas. Na Universidade Federal do Piauí (UFPI) só no curso de medicina a cada 100 estudantes aprovados no último ENEM, mais de setenta são estudantes de fora do Piauí. No ano passado (2011), as questões vazaram e o adiamento da prova provocou mobilizações estudantis nas ruas e nos conselhos universitários.
Além disso, a comunidade acadêmica não foi ouvida, mesmo sendo responsáveis por todos os aspectos da vida universitária - os professores, estudantes e servidores - esses têm muito a dizer sobre as formas de ingresso na Universidade. Devemos democratizar o acesso expandindo vagas com investimento, devemos democratizar o acesso, mas com responsabilidade e não pensando apenas em dinheiro ou comodidade. Tem que se pensar na questão social, nos conteúdos abordados, na relevância que isso venha a ter para o Piauí.
É preciso mais investimento para a UESPI, sim, que se encontra numa situação calamitosa, com seus cursos abandonados pelo Estado. Mas também precisamos de uma educação de qualidade e que seja prioritária em nossa sociedade, precisamos de política efetiva de assistência estudantil: bolsas, residências e Restaurante Universitário para que todos possam estudar!
O QUE QUEREMOS MESMO É SO O DIREITO DE TER UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA GRATUITA E DE QUALIDADE!
Centro Acadêmico de História de Parnaíba
Levante Popular da Juventude – Piauí
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